2⁰
lugar:
Sandra Maria Godinho Gonçalves.
Poesia: Se for para partir
Pseudônimo: Sílvia Werneck.
Pseudônimo: Sílvia Werneck.
Cidade: Manaus/AM.
Pontuação: 460.
Se for para partir
Se for para
partir,
Que nunca olhe
para trás,
Que se descalce
da cegueira,
Que o caminho se
revele,
Que se fecunde,
Mais mulher
Se for para
partir,
Que eu te
memorize,
Que eu te
cheire,
Que eu te chore,
Uma última vez
Se for para
partir,
Que arrebente os
olhos,
Para que não
veja
Que arrebente os
braços,
Para que não
abrace,
Que arrebente a
boca
Para que não
implore.
Se for para
partir,
Que não perca a
voz,
Que não perca a
vez,
Que não perca a
veia,
Que não perca a
vaga,
Para que nunca
possam
Te apagar.
Se for para
partir,
Nunca se
dissolva,
Nunca se dilua,
Nunca se
desmanche,
Até se desfazer
Por completo,
Mas em se
desfazendo,
Faça-se ressurgir
Por inteiro.
Se for para
partir,
Carrega a
coragem,
Feita do que não
se sabe,
Que é hábito de
revolta,
Que gruda na
pele
Feito visgo
Se for para
partir
Que as rimas
sejam de sangue,
Que as rimas
sejam de vozes,
Que as rimas não
adormeçam
As lágrimas que
rolam
Se for para
partir
Que seja de
vagina aberta,
Versejando,
E se regozije
Em íntimo
atrevimento
Se for para
partir
Que seja para
uma vida bandida.
Uma vida fodida
que morde, rosna
e arranha,
Sem ouvir o
silêncio acordando o vento,
Só uma sorte de
liberdade,
Que arrepia o
mundo,
Que sacode os
eixos,
Que engole
primavera e flor,
Sem preencher
lacunas.
Se for para
partir,
Que as mãos
sejam fortes,
Que os pés sejam
firmes,
Que as pernas
não esmoreçam,
Que as linhas
não se tornem rendado,
De cicatrizes
profundas.
Se for para
partir
Que o ato
Marque feito
gado,
Que salive a
boca de desejos,
E arrebate até o
âmago
E arrebente as
vontades
Se for para
partir,
Que seja
loucura,
Que seja resgate
De interditos
mundanos,
De imundos
estilhaços,
De silêncios,
De palavras,
Nunca de
abandono.
Se for para
partir,
Faça do pranto
conforto,
Faça da fala
canto,
Faça da sina
caminho,
Novo e
revigorante.
Se for para
partir,
Deixe que a
chama
te tome as
pernas
te tome as
entranhas,
Como possessão,
E direito.
Se for para
partir
Seja esperança
de reparação
Que não é
santidade,
Seja esperança
de frutificação,
Que não é
desfrute,
Ou é.
Se for para
partir,
Que seja em
indistinto passo,
Em indistinto
arrasto,
Tecendo caminho
em visgo
Em espera
Ou desespero.
Se for para
partir,
Que seja em
malemolência maldita
Que de desejo se
crie,
Que em paciência
se gaste
Em gosma que
brilha no céu.
Se for para
partir,
Que seja sem
bagagem custosa,
Que o homem
constrói no tempo,
Que escorre no
côncavo das palmas,
Feito água que
nunca basta.
Se for para
partir,
Resista feito
semente,
Viceje onde os
homens enterram,
Como as raízes
que cavam até
Encontrar a
esperança
Em outros
homens.
(Pseudônimo: Sílvia Werneck)
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