- Nome: Laérson Quaresma de Moraes .
- Natural de Campinas-SP.
- Cidade em que representa: Campinas-SP.
- Atividades: Poeta.
- 2°lugar com poema:
A LIBERTAÇÃO DOS ESCRAVOS
Liberdade! Liberdade!
Era a notícia espalhada
Nos campos, ruas, calçadas,
Numa tremenda euforia;
Gente chorando, sorrindo,
Bênçãos aos céus mil pedindo
Já que a notícia corria!
Negro João, preto velho,
Acorda com tantos gritos,
Já ficando muito aflito...
Coça a cabeça nevada
E abrindo bem devagar
Os olhos foi “espreitar”
Toda a bagunça danada...
Eis que a porta da senzala
Se faz aberta num triz:
Negro Zé, moço feliz
– Com todo o viço da idade –,
Que abraça o avô “Nego Jão”,
Brada com tanta emoção:
“ – Liberdade! Liberdade!”
E pula, gira, gritando
Com mais força do que outrora,
O lindo romper da aurora...
Negro João, no seu canto,
Vendo que o sonho é real,
Sente que pode, afinal,
Sorrir em forma de pranto...
Então chora longo tempo
(Tanto que o neto calou)
As mágoas que represou...
Quanta emoção na senzala...
E olhando as mãos calejadas
No duro afã das enxadas,
Abraça o Zé. Depois fala,
Já tendo as mãos sobre o peito:
“ Cumu isperei esse dia,
Cumu esse peitu ardia
Di réiva, dó, di turmentu,
Também di munta isperança
– Desdi us tempus di criança –,
Fincados nu pensamentu!...
Tristi a travessa dus mar...
Bem mais marvada qui tudu;
Nóis qué gritá... Ficô mudu
Cum us chicoti nus lombus...
U friu cortava a genti;
Chorus, bateção di denti...
Só tristeza, só assombru...
Fiu, tanto fedô, correnti,
I nóis ali, muntuadu,
Pió qui porcu, qui gadu...
Niguém pá dá pruteção...
Mortus jugados nus mar...
Niguém pá nus confurtá...
Di nada diantô oração!...
Chegano, fumus vindidus
Di iscravus prus fazenderos
(Lidas di roças, terreros,
Nus cafezá dus Barão)...
Sinzala, mió qui naviu,
Qui lú da África partiu,
Sangrano mir Curação!...
Aqui abraçemos Jisus!
Na luita tivemus paiz
(Barão, tamém capataiz,
São cristão, têm caridade).
Nóis tem nossus sintimentus,
Dão lida, tétu, alimentus,
Partis da filicidade!
Seu vô mora na sinzala,
Ondi viví a vida intera
Com sua vó, doci i facera!
Um dia ocê vai entendê...
Eu pidu pra vancê, agora,
qui num sai, num vai imbora
pruque pódi arrependê!...
Seus vô casô na fazenda!
Fius, netus i muntos fiotis
Vinhéru i niguém deu “bótis”,
Nus bondosus dus Sinhôs!
Tem iscola, casas novas,
Arrendamentu, qui prova:
“Cum Jisus tem munto amô!”
Só ocê sábi dessa históra
(Qui Orixás, Jisus sabia),
Pela era só di aligria...
Zé – qui Jisus mi dexô!
Agora canti, di novu,
Juntu, Zé, sempri a seu povu,
Qui vai discansá seu vô”...
Feliz morreu “Nego Jão”.
Isabel fez seu papel,
Lei que não mudou em mel
Ódios, racismos. Verdade...
Negro Zé partiu dali...
“ – Pur lá nada é mió qui aqui;
É sonhu a tar L I B E R D A D E...”
* Laérson Quaresma de Moraes-Campinas-SP.
*Pseudônimo: Vitório da Desilusão.
Um comentário:
Ao ler esta poesia foi como estar diante do "Preto Velho" e ouvir suas palavras de sabedoria, ao mesmo tempo
refletir que todos tem o direito de viver aqui e em acolá, livres, de corações abertos na casa que cobre o grão das separações. Valeu Laérson, como bom mineiro reafirmo: "Liberdade ainda que tardia"...
Bernardo Santos - Belo Horizonte-MG
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